segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Proesia: Sobre quando tudo parece dar errado


Senti calafrios quando vi. Precisei esfregar os olhos e olhar mais uma vez para ter certeza. Era isso mesmo. Meu noivo estava com outra. Faltavam apenas dezoito dias para o casamento. A festa estava paga, os convites haviam sido entregues A casa na beira da praia tinha sido totalmente decorada por mim; os móveis, as cores das paredes e a ideia de colocar as portas da frente de vidro. Eu não podia prever o que aquilo poderia significar. Desejaria jamais ter visto a cena.

Sai correndo feito louca. Fui até o píer e atirei o anel no mar. Senti como se uma tonelada saísse de mim. "Força, Carolina!" Disse para mim mesma. Só então consegui chorar.

Mais tarde, naquele mesmo dia, Ruan saia para o trabalho. Ele era mergulhador da Petrobras e estava na região em busca de novas espécies de peixes. Depois de alguns minutos no mar achou o anel.
"Henrique e Carolina" era o que estava escrito. Por um momento sentiu inveja daquele casal, já que nunca havia se apaixonado. Mais ao lado havia uma data. Fez as contas, faltavam dezoito dias para aquele casamento. Saiu da água apressadamente e decidiu que iria achar um dos dois para entregar o anel. Decidiu-se pela mulher, pois ela deveria estar triste com a situação.

Foi pra casa tomar banho e não conseguiu parar de pensar no assunto: como ela era? Loira, negra, morena? Alta ou baixa? Trabalhava com o que? Se recriminou pelos pensamentos, afinal, em poucos dias aquela - que ele nem ao menos sabia quem era - seria uma mulher casada. Começou a andar pelas ruas sem direção e perguntava para todos que passavam se alguém conhecia aquele casal. Teve a ideia de deixar um comunicado nos principais pontos comerciais da cidade. Passados cinco dias começou a se desesperar. O casamento se aproximava, achar aquele anel o fez sentir algo estranho que ele ainda não conseguia decifrar.

Estava deitado na cama quando a campainha tocou. Achando que era o entregador de pizza, não preocupou-se em vestir-se melhor. Sem camisa e com uma calça larga branca, abriu a porta. 
Ela era linda! E não precisou dizer nada, pois ele sabia que era dona daquele anel. Juan não sabia se ficava feliz por finalmente tê-la achado ou triste porque a aventura que inexplicavelmente havia dado tanto gás a sua vida havia terminado.

Ele a convidou para entrar e fez menção de ir pegar o anel. Ela pediu para que se sentassem e então disparou sem rodeios:
- Eu sou a Carolina, a dona do anel. Quer dizer, ex dona, porque agora ele pertence a você. 
Juan parecia desnorteado, então ela continuou:
- Não sei se pensa que perdi mergulhando ou em um passeio de barco, mas a verdade é que eu não perdi esse anel. Eu escolhi me desfazer  dele e por isso o joguei no píer. Descobri a traição do meu noivo faltando dezoito dias para o casamento. Agradeço sua boa vontade e digo que nunca vi alguém tão empenhado em fazer o bem e ajudar uma pessoa que nem conhecia. Vi seu anúncio em vários lugares e desde ontem estou tomando coragem para vir até aqui.

Juan não sabia o que dizer. A mulher misteriosa que sonhara todas essas noites agora tinha um rosto e estava sozinha. Havia um clima diferente no lugar.

Abraçaram-se. Ambos sabiam o que a vida havia reservado para eles ali por diante.
Jéssica Simões (Proesia)

"Quando tudo nos parece dar errado acontecem coisas boas que não teriam acontecido se tudo tivesse dado certo." Renato Russo

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